quinta-feira, 1 de março de 2012

Uma ode à luta de classes

A vida parece um teatro, um teatro em que o roteiro é construído por quem participa mais intervindo menos. Esse roteiro, feito por pessoas e somente por isso está fadado ao fracasso, à vitória. O erro de um gera o erro do outro, e por consequência o seu acerto.

Ao fim do primeiro ato vem uma pausa para a plateia respirar, fumar um cigarro, mas especialmente para os atores se prepararem para o novo desenrolar da história, para os trabalhadores manuais prepararem o novo cenário, tudo as escondidas da plateia que não pode espiar sob o risco de estragar a encenação.

E então começa uma nova etapa, que pode ser uma continuidade ou uma ruptura com o ato anterior, ou até uma continuidade disfarçada de ruptura mas nunca uma ruptura disfarçada de continuidade, pois quem rompe precisa mostrar aos quatro ventos, aos sete mares, a todas as sereias e monstros marinhos, a todos os elementos da natureza que houve o racha, o apartamento, o corte do cordão umbilical, a liberação, entre outros substantivos que quem escreve gosta de usar e eu tampouco dado ao meu linguajar chulo.

No entanto ao fim do terceiro, naquela pausa em que os atores vão comer, tomar uma água pois estão desidratados de tanto cantarem ou trocarem de roupa,  é inevitável não olhar e analisar o primeiro ato. O que foi que ocorreu? Como as coisas se deram? Porque aconteceu isso ou aquilo? Porque aquele primeiro ato terminou tão mal?

O segundo ato acaba perdendo a importância no decorrer da peça pois já foi a ruptura sendo portanto apenas a continuidade do fim, as escolhas óbvias serão tomadas pois, afinal, somos humanos e completamente previsíveis.

Já o terceiro ato é o perigoso, pois é a consolidação ou negação da ruptura do primeiro ato e é nesse em que nos encontramos já que aquela cena iniciada no final do primeiro semestre e que durou até o inicio do segundo semestre de 2011 apresentou suas limitações e consequências para nós, nos deixou no estágio de letargia do segundo ato, das consequências óbvias, de cada um cuidar um pouco de si, da sua vida, ainda que por vezes nos peguemos pensando constantemente um no outro, que entremos em contato com os velhos aliados para ouvirmos de cada um os erros cometidos, as possibilidades que tivemos e não aproveitamos.

E eu que não sonhava, hoje sonho com você, por uma simples razão: você não sai da minha cabeça. Também alimento na medida em que fico lhe estudando, lhe analisando e por vezes me pego lhe respirando, sentindo, te transformando em nada, em tudo para não errar neste terceiro ato e me misturar à peça forçando um retorno eterno ao primeiro ato, momento em que tudo estava a flor da pele, momento em que nós desejávamos tomar o céu de assalto e que isso era de fato possível. Por vezes podíamos sentir a umidade das nuvens na ponta dos dedos, ao nosso alcance e ainda ele continua ali, tão próximo para quem a conhece, mesmo que por idealizações, e ao mesmo tempo tão distante. Milhares de vezes fomos empurrados e uma hora a "escadinha" feita na nossa cacunda ia ter que cair inviabilizando o toque.

Estamos agora nesse estágio em que devemos construir o retorno ao primeiro ato, momento em que tudo era sincero, em que tudo era possível, ou abandonar de vez o teatro, seja como espectador, seja como ator.
Eu já fiz minha escolha, sempre retornar ao primeiro ato.

"Humano, demasiadamente humano", e com todo orgulho porque definitivamente entendi o véio barbudo e seu amor por essa raça, a raça humana e sua capacidade de transformar e se transformar. E afinal, como não ama-la não é?

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